Você já deve ter
passado por isso. Começa com uma dor insuportável. Fica tão ruim assim pelo
longo tempo que a, indevidamente, é suportada.
De tomar caminhos
errados, daqueles que deixam o estômago doendo e os olhos brilhosos de lágrimas,
e não corrigir a rota. Daquela inocente e fatal ideia de seguir sempre em
frente, sem parar. O problema é que os caminhos não se mostram completamente à
primeira vista. Eles vão derivando a cada passo, a cada curva.
Chega o tal dia, e
você se vê lá, no meio. Sem se lembrar de quanto tempo passou até ali. Tentando
sentir o gostinho bom daquela trilha tão escondida e tão mágica que acabou
ficando para trás (afinal, o dever chamava!).
Então, você para. Ou
melhor, param por você.
Suas pernas não te
obedecem mais. Suas entranhas imploram por atenção, e conseguem! Seu corpo se
revolta. E você cede.
Se sua alma já havia
sido vendida em acordos politicamente corretos no passado, não importa. Seu
corpo, não se deixa levar tão fácil. Ele é esperto, é físico; ele sabe que tem
força, que tem presença. Você cede, porque não há outra escolha neste ponto.
Ao escolher abandonar
a dor dilacerante, você toma um caminho sem volta. Ela nunca mais vai dominar seu
território. Porém, adiar mudanças será similarmente impossível. O fim da dor significa
também o fim da acomodação, da inércia, do “tanto faz”.
É o começo de uma nova
era. E de novas dores!
Sim, claro! Viver não
acontece sem dor, sem barreiras, sem arranhões. Quem gostaria de viver dentro de
uma bolha (física ou psicológica)?
Acostumar-se com a dor
é o único caminho constante e indisfarçável. Cada dia seu corpo se torna mais
resistente e sua alma mais forte. Cada dia a tolerância à dor aumenta ao mesmo
tempo em que a consciência se torna mais atenta. No final, mesmo sabendo que
você pode aguentá-la, você decide reagir e não tolerar mais.
Acostumar-se á dor é
também um ato de coragem. É uma declaração, para o lado de fora, de que você
está preparado do lado de dentro. Que venham socos e pontapés, que venham
cortes, ameaças, gritos. Eu também tenho voz, e posso gritar. Eu também tenho
unhas, e posso me defender. Eu também tenho vontade, e vou viver.
Eu tomei esse caminho
há alguns anos. E dói...como sempre doeu. Mas eu também eu sorrio, gargalho,
sou feliz...como nunca antes na história deste país.
E eu vivo, eu sou ser
vivo. Porque eu erro, porque eu choro, porque eu sofro e porque dói. Mas porque
eu escolho viver apesar e por causa disso tudo.
Não concorda, então oh! |
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