Existem dois sentimentos
que sempre me invadiram:
O primeiro é
perder-se.
Perder-se é fácil, é comum.
Não precisa de muito. Uma distração, a falta de uma placa, a confusão em
interpretar sinais, e pronto: ele invade. E faz questão de deixar bem claro que
está ali de muita má vontade, e insiste em perturbar e atazanar até que uma
providência seja tomada. Fica cutucando os pensamentos até que eles achem uma
solução para sua condição.
O outro, o encontrar-se, é bem diferente.
Esse é bem difícil, e
fugaz. Não tem jeito certo para ele aparecer. Às vezes é natural e casual. Em outras,
é necessário uma longa e tortuosa busca, e muito esforço. Ele é discreto, e faz
questão de não fazer muito alarde, nem quando está perto, nem quando está bem distante.
Ele é quieto, e sorridente. Não faz tormentas; ao contrário, se junta com os
pensamentos e vai brincar de construir sonhos.
Por muito tempo, eu
travei uma batalha dura. Combatia o primeiro e buscava, sem sucesso, o segundo.
Deseja eliminar completamente o tal primeiro, uma praga que só trazia insônia.
E sonhava com a quietude e paz do segundo.
E fui derrotada toda
vez.
Demorei bastante,
tempo demais talvez, para perceber a verdade óbvia: que um não vive sem o
outro. Opostos e complementares. Yin e yang, dual e complexo como todas as
coisas que existem.
Querer encontrar-se
sem se perder é desumano, é irreal.
É preciso navegar. É
preciso colecionar arranhões até descobrir quais portas tem o tamanho certo para
você passar.
É aprender que
opiniões são apenas opiniões, sujeitas ao potencial e limitação de quem as
deferiram, e jamais leis e regras imutáveis. É dizer ao mundo quem você é com
suas palavras e neologismos, ao invés de se apegar a rótulos e clichês para
tentar traduzir sua essência. É ter opinião e certezas; sempre sabendo duvidar
de suas opiniões e certezas.
É entender, na
profundeza de sua alma, que mudar é essencial. É dizer “não sei” ao universo, com
a humildade de ser alguém que realmente tem a aprender. É esperar uma resposta,
mesmo que indireta e simbólica.
É aprender que o
importante não está onde as respostas levam, mas sim a capacidade de gerar as perguntas
que fazem você se mover. E que, sorrir deslumbrado com os sonhos só é mágico porque
uma vez você também teve medos, pesadelos e chorou.
É compreender , enfim,
que a verdadeira essência está em encontrar-se no processo de perder-se.
Lenine, "Do It"
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