30/09/2011

Nutrindo a Criatividade


Um talk de Elizabeth Gilbert (sim do livro Eat, Pray, Love) sobre seu trabalho e muito mais 



Quick footnote – se você não conhece o TED ainda, não sabe o que perde. Ok, ok. Esta é a home http://www.ted.com/


Gosto do jeito dela de falar sobre o peso (ou responsabilidade) de ser genial. É uma cobrança pesada. É como um brasão daqueles da época do Rei Arthur. Uma bandeira grande pendurada em uma haste enorme e pesada, carregada por uma pessoa só e solitária.

Ao tirar essa cobrança dos ombros, fica mais fácil de respirar. E aí sim, criar e se deixar fluir pela vida.

Faça a sua parte do trabalho. Sempre se comprometa a estar presente e fazer a sua parte do trabalho. Além disso, é sorte. Ou muita intuição para realmente criar algo que atenda a “fome” da maioria, e daí derive um “sucesso” de aceitação e público.

Mas nem isso é importante. Fundamental mesmo é atender a própria fome.

E encontrar outros (mesmo poucos) que queiram compartilhar disso contigo. Aí sim se atinge o grande sucesso: fazer parte de algo maior que você mesmo. Fazer parte de que rede que seja ao mesmo tempo fruto seu e seu mestre de ensino.

Saia das suas neuras. Aprenda que você é. (Viram o ponto no final da frase?).

“Ser” é um verbo de ligação sim, mas não entre sujeito e predicado (a.k.a obrigações e objetivos). É o ato de ligar você e quem mais queira fazer parte da sua vida. Só isso.

Olé!

27/09/2011

Armazenar Pra Que? - Ainda Não Acabou



A memória O apego na época dos bytes.

Inexplicadamente a conta do e-mail funcionou semanas mais tarde. 

Já havia passado a fase de luto, a culpa e o apego por tantos e-mails guardados sem o devido valor. A dor por não acessar as memórias (sem acesso há anos) era cada dia menor, mais conformista.

Mas então resolvi tentar mais uma vez. Quem sabe dessa vez não funciona...

E voilà....  abriu! Estava lá, tudo e mais um pouco de novos e-mails a serem lidos. Devia ser um problema do servidor, uma pegadinha de um FDP sem coração, um aviso dos céus, sei lá.

Sei que sai diferente dessa experiência.

Perder um e-mail é quase como perder o endereço de casa. Bateu aquele desespero. Como vou me cadastrar em sites, receber mensagens de amigos, participar das discussões, saber quando será o próximo encontro com o pessoal, deletar spam xingando o energúmeno que vive me mandado isso… Minha identidade virtual havia perdido seu endereço e sua forma de contato com o mundo!

Nada como perder (mesmo que por tempo limitado) para refletir sobre o ter (no sentido de controlar) toda sua história é tão fugaz e desnecessário.

Havia muitos e-mails ali com desejos de beijos e carinhos, mas nada como recebê-los pessoalmente, agora, fisicamente. Havia um vídeo com uma canção gravada de presente para mim, mas nada como ter a canção executada ao vivo e compartilhar as risadas e olhares.

Nada como ter acesso a tudo que estava ali armazenado. Mas nada mesmo que ter a certeza que tudo aquilo passou. Para melhor ou não. Saber que tive a capacidade de acumular anos e anos de história, de casos e mensagens me dá a certeza e mais de segurança para continuar construindo novos caminhos.

Aprendi também que não dá para eleger um servidor sabe-se lá de onde para guardar sua história. Nada substitui seus sentidos, sua mente, seu corpo.

E finalmente consegui responder o título do post. Armazenar é preciso, afinal somos constituídos de memórias e experiências. Onde é a chave da questão…

Daqui para frente, conto mais com as minhas cicatrizes (umas superficiais outras nem tanto) para servirem de arquivo. Ah, e outra conta de e-mail de um novo provedor só para garantir…

O processo de escolher ...

... ocorre como um jogo da memória mais ou menos assim:

Primeiro você olha para dentro e descobre qual é a primeira carta.
Depois, olha para fora e busca o par que se encaixa.

Isso serve para amor, amigos, profissão, viagem...

( Registrado a pedido da mais bela "carta-par" que encontrei )

26/09/2011

Armazenar Pra Que?



A memória na época dos bytes.

Começou assim, lendo essa notícia na @revistasuper “Armazenar não é preciso”. Em tempo de sustentabilidade e consumo consciente, tem gente que se pergunta quanto gasta armazenar e-mails nos servidores por aí.

A questão nem é tanto o número cabalístico encontrado, que na própria reportagem é meio desacreditado. Mas na pergunta final: E pra que se armazena tanto mega bites de e-mails e arquivos?

Fiquei intrigada. Afinal minha conta de e-mail acumula hoje cerca de 1750 e-mails não lidos. A maioria meus mesmo, de arquivos e links e notas e sei lá mais que achei interessante em alguma época e resolvi guardar. Dá para notar que nunca tive nem o trabalho de abrir depois.

Se voltar nas páginas dos primeiros e-mails desta conta vou encontrar conversas no início da faculdade. Discussões de trabalhos, mensagens entre amigos, convites de baladas. Memórias e lembranças. De pessoas que convivi tanto naquele período e que pouquíssimo reencontrei nos anos seguintes. De pensamentos e formas minhas, de quem já fui e sobre o que sonhava.

Há também toneladas de e-mails trocados durante o namoro. Da fase de aproximação, da conquista, das mudanças, dos planos, das trocas e momentos compartilhados. Tudo ali, registrado. Nossa história em milhares de caracteres.

Se a história das outras épocas ficou registrada em fósseis, pinturas rupestres ou ruínas, a minha está no servidor de uma big empresa americana, que não tenho a menor noção (ou preocupação) de conhecer o endereço físico.

Conforta o fato de ter acesso a tudo isso de qualquer computador, de qualquer lugar do planeta. É como se carregasse tudo comigo, numa mochila que não pesa nos ombros.

Outro dia um colega de trabalho comentou em tom de piada que, hoje em dia, quando filho nasce, vem junto um HD externo para armazenar toda a vida dele ali. E não é mesmo?

Os HDs externos, pen drives e arquivos virtuais hoje substituem as caixinhas cheias de lembrancinhas do passado. Servem para guardar pedacinhos de quem fomos, recordações do que nos formou.

Vou trocar a pergunta da reportagem por outra. Estamos prontos para desapegar de memórias, mesmo as virtuais?

PS. Dia seguinte ao escrever estas linhas, descobri que minha conta de tantos longos anos de e-mail não mais abria. Tentei várias vezes, bloqueia o acesso por outras, mandei e-mail desesperado para a administração, e nada! Perdi o acesso...

Pura auto sabotagem, auto perseguição, auto mutilação... sai zica! Pronta eu não estava, mas estou lidando com o luto e o peso de ter apenas memórias da minha mente confusa ...

Excesso de Bagagem para Brasília

Acho que a tarifa de excesso de bagagem é grave problema deste país. É por isso que o Estado pesa tanto sobre o brasileiro.

Cada nobre representante tem que levar na bagagem até Brasília uma considerável amostra dos valores e práticas vivenciadas no cantinho do país de qual saiu. Não tem como todo mundo não pagar caro por isso! 


Pense nisso!

Violência Gratuita



Responde. Por qual razão eu deveria assistir a uma cena de agressão?

Acabo me perguntando se a escalada da violência urbana não está ligada a esta permissividade da sociedade em tolerar e divulgar a violência de forma gratuita e irrestrita. Cada dia me surpreende mais.

Lembro de uma notícia num jornal da tarde há muitos anos. Era de um motorista no México que havia acelerado para cima de uma passeata de crianças (!!!) e professores porque eles estavam no caminho sei lá por qual razão (ah, ele buzinou antes). Lembro a cena congelando antes do atropelamento. Em seguida, a apresentadora entra na tela novamente justificando: “em respeito a vocês não exibiremos as imagens desta cena ...” (parafraseando devido a memória curta, mas o sentido era esse daí).

Então passemos para o caso mais recente do motorista gaúcho que atropelou ciclistas em uma passeata. (Não vou julgar o mérito ou culpa do caso).

Jornal da noite. Mesma emissora de outrora. Passava pela sala, e a televisão lá, com sua presença imponente. Começa o assunto do atropelamento. Vai para as imagens de cinegrafistas amadores (a praga do século XXI). E segue. Os ciclistas, o carro, a aceleração, o atropelamento, os gritos. Segundos apenas. Corta. Aparecem os apresentares com cara de indignados, condenando e julgando, com a “imparcialidade” requerida pela profissão.

E eu sobrei lá. Invadida, desrespeitada. Afinal, quem disse que queria ver essas imagens? Por que não me deram a opção de não vê-las?

Sem aviso, sem responsabilidade, foram divulgando cenas “comuns”, furos de reportagem. O prazo de validade do caso já estava se esgotando. Então é preciso ser rápido, eficiente, direto. Respeito, quem?
 O caso já estava na internet há muitas horas. Havia vídeos para todo lado. Devia haver muito mais ainda em outras fontes que não de notícias.

Neste caso, eu escolhi não abrir nenhum, não clicar. Eu ainda tinha a opção. E fiz a minha escolha de não querer assistir nem gravar (afinal minha memória é fotográfica) aquilo em mim. Até aquele ponto. Quando não me deram o poder da escolha. Fechar os olhos impede os sons? Movimentos da reação duram segundos mais longos que a duração das próprias imagens.

E não foi o único caso. Sempre há uma foto em uma página de notícias: gente sangrando, raio x de facas em cabeças, cenas de agressão, fatos e fotos. De novo, quem disse que quero ver? Deveria ter o direito de dizer não. De selecionar o que quero de memória. Escolha não ler, não clicar, não me aprofundar. Mas o quadrinho com a imagem está lá. E eu já vi, já gravei, mesmo não querendo.

Informação virou commoditie. E os esforços ficam concentrados em vender volume, quantidade. E o preço é jogado lá embaixo para ter mais consumidores. A violência se torna gratuita para atrair mais. Informa pouco e agrega praticamente nada. Mas faz o seu papel de atração de massas de pessoas. É bem rentável. O produto ideal dos “players” de notícias.

Eu escolho. Eu coloco o limite da quantidade de violência (disfarçada em notícia) irei suportar, irei consumir por dia. E, mais intensamente ainda, escolho o nível de violência que irei transmitir para outros.
Se não me dão o direito de escolher o que receber, exerço meu direito de transmitir o que quero e devo. Para informar e precaver pessoas queridas, mas não assustá-las ou aumentar de forma irresponsável o medo (e por que não a esperança) pela vida.

Será que ainda vão inventar sites e vídeos com cheiro e gosto? Violência terá gosto? Será que há gente disposta a pagar para sentir o gosto da violência?

O mundo só será melhor quando a melhor parte de cada pessoa estiver disponível ao mundo. É difícil, mas a alternativa é bem pior...

Ponto de Partida

Primeiro escolhi o nome.

Para conseguir dar identidade e propósito. Enxergar daqui, do ponto de partida, a chegada no horizonte ainda bem distante. (Será que existe chegada?)

Talvez não. Talvez seja só uma bandeira, um brasão, forma de pedir passagem, de deixar rastros, de mostrar sem ainda nada revelar.

Gostei do som das palavras. Da mistura. Da combinação de dois pedaços, multiplicando-se, co-criando outra parte, mais forte e completamente distinta.

Gosto de eco. Da imagem que se forma na mente. De um grito, de uma repetição. De um som propagado, ligado a sua origem, mas mesmo assim diferente daquela, cambiando a cada batida, a cada reflexão. Deixando vestígio, memória, ligeiras ou profundas, tanto faz. Criando simpatia. Ou não.

Gosto de bravio. Ouvi primeiro numa música (“barulho bravio de ondas”). E me encantei pelo ritmo. Procurei sua definição. E encontrei o símbolo que faltava: Bravo, feroz, assanhado. Não domesticado. Brutal, áspero; Terreno inculto; Difícil de transitar.

Que então seja...



Esta é a busca, um trajeto. Sem saber de onde partiu, como um eco. Sendo atirado (e se atirando) pelos cantos, batendo, ganhando cicatrizes, reverberando, mudando de sentido, direção, reiniciando. Como um eco bravio, um grito tentando viajar e carregar a sua essência pelo terreno mais difícil e áspero.

Este é um relato despretensioso e repleto de falhas. Procura refletir da forma mais parcial possível o como é ser, aqui, neste tempo-espaço. Ponto.